O espelho do estado do mundo
Artigo de Opinião – Patrícia Magalhães Ferreira A 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento […]
Saiba maisO mundo encontra-se hoje particularmente marcado pela incerteza e volatilidade, com tendências complexas e por vezes contraditórias entre si. Uma certeza subsiste, porém: a interdependência é inevitável e não existem “ilhas” de desenvolvimento ou de paz, uma vez que os efeitos das crises e das assimetrias mundiais se estendem muito para além das fronteiras nacionais, exigindo também respostas mais concertadas a nível regional e global.
Um conjunto de crises cruciais para o futuro da humanidade conflui neste contexto incerto, incluindo:
O crescimento das tendências populistas e da desinformação, os efeitos económicos e sociais das guerras, as tensões geopolíticas e as disputas comerciais, bem como a fraqueza da governação global e das instâncias multilaterais, tendem a refletir-se numa maior concentração em necessidades e políticas internas dos países, num reforço de posições nacionalistas e de intolerância face ao “outro”, enfraquecendo.
“At one stage, international relations seemed to be moving toward a G2 world; now we risk ending up with G-nothing. No cooperation. No dialogue. No collective problem-solving. But the reality is that we live in a world where the logic of cooperation and dialogue is the only path forward. No power or group alone can call the shots. No major global challenge can be solved by a coalition of the willing. We need a coalition of the world.” – António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, Debate anual na Assembleia Geral das Nações Unidas, 20.09.2022.
Os desafios e assimetrias globais interpelam-nos sobre qual o nosso papel de cidadãos e sobre como podemos contribuir para o Desenvolvimento Global de forma consciente, informada e empenhada, com base nos valores que nos movem e nos princípios que nos sustentam enquanto Humanidade comum.
O projeto “Desafios Globais para um Desenvolvimento Global” contribui para uma reflexão crítica e informada sobre desafios globais para o desenvolvimento, numa perspetiva de cidadania global ativa e consciente. Especificamente, as atividades tornam mais presente e visível o desenvolvimento equitativo e sustentável e os valores da solidariedade internacional nas agendas públicas, dos decisores e dos media em Portugal.
Assistimos a uma deterioração das condições de paz e segurança, com o aumento da conflitualidade no mundo. Rivalidades e tensões geopolíticas contribuem para esse agravamento, sobrepondo-se a questões de segurança humana.
Os conflitos violentos são a principal causa de deslocamento forçado e fator gerador de crises humanitárias, muitas das quais persistentes e prolongadas, com necessidades de financiamento e resposta que não estão a ser atendidas pela comunidade internacional.
Os efeitos dos conflitos violentos – humanos, económicos, sociais, ambientais – comprometem as perspetivas de desenvolvimento. Por outro lado, os países com condições de paz positiva e de segurança mais sustentada têm maior capacidade de lidar com choques, sejam eles uma pandemia, uma recessão económica, ou um desastre ambiental.
A grande maioria dos países afetados por conflitos e/ou pela insegurança e violência estão em situação de grande fragilidade, A população total que vive nestes contextos deverá continuar a aumentar, mas a atenção internacional está longe de ser equilibrada, podendo gerar novos fatores de tensão e conflito e comprometendo as perspetivas de paz e de desenvolvimento.
O impacto económico global da violência atinge máximos históricos
Conflitos são a principal causa do deslocamento forçado
O número de vítimas mortais dos conflitos atinge números preocupantes
O aquecimento global e o aumento de eventos meteorológicos extremos, as pressões humanas sobre os solos e os oceanos, ou a perda de biodiversidade e de ecossistemas são ameaças sem precedentes, afetando transversalmente o desenvolvimento e o direito à alimentação, à saúde, à habitação, ou aos meios básicos de subsistência.
Os países com rendimentos mais baixos são os menos responsáveis pelas alterações climáticas e estão entre os que mais sentem os seus efeitos. As assimetrias globais são consideráveis no que respeita às necessidades, pois várias regiões do mundo ainda se debatem com o acesso a água potável e saneamento básico, ou a energia fiável e acessível.
Para gerar benefícios mútuos e abrangentes, é necessário apoio adequado e soluções concertadas (incluindo na partilha de tecnologia) para uma transição equilibrada para economias “mais verdes”, assentes em modelos de gestão dos recursos naturais e de produção e consumo mais sustentáveis, em indústrias menos poluentes e em tecnologias mais limpas, sem esquecer as dimensões sociais e humanas.
A interligação entre as várias dimensões do desenvolvimento suscita também interrogações sobre os modelos a desenvolver na promoção da sustentabilidade e sobre as formas possíveis de conciliar as legítimas aspirações dos povos a uma vida digna com a necessidade de avançar rapidamente na transição climática e energética.
Uma ordem internacional baseada em regras comumente aceites (rules-based system) é importante para a convivência pacífica entre Estados e regiões, no cumprimento do Direito Internacional e com enfoque no multilateralismo, no diálogo e na concertação.
O processo de globalização e outros fatores têm agravado desequilíbrios e exclusão de largos setores das sociedades, e os sistemas mundiais – comerciais, alimentares, digitais, financeiros, etc. – são marcados por grandes assimetrias. As relações de poder na tomada de decisão e nas parcerias denotam estas assimetrias, com os países mais pobres e vulneráveis a não terem poder ou voz em vários espaços onde as decisões que os impactam são tomadas. A polarização traz novos formatos de multilateralismo, mais flexíveis e fora de quadros institucionais rígidos, que têm efeitos nas decisões e políticas adotadas. Poderá o Pacto para o Futuro (2024) fornecer caminhos para a reforma da governação global?
Apesar da fragilidade de algumas estruturas de governação global na resposta aos desafios, verifica-se a importância crescente da agenda dos bens públicos globais e sua governação, que requerem respostas mais concertadas a nível mundial. O reforço das instituições multilaterais, incluindo uma gestão negociada e partilhada de bens comuns, bem como a ligação da governação global às necessidades dos cidadãos são questões essenciais para o desenvolvimento global.
Fragmentação da governação globale crise do multilateralismo
As reformas das grandes organizações internacionais são necessárias, mas difíceis de implementar
O desenvolvimento sustentável interliga as dimensões social, económica e ambiental, tal como expresso na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, com vista a prover as necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras. Com a incerteza generalizada a nível mundial, aprofundam-se as discussões sobre que agenda global para o desenvolvimento pode ser promovida, ou que condições existem para uma atuação concertada.
A crescente concentração de riqueza no mundo alerta para desigualdades agravadas, com vastos setores da população mundial a “serem deixados para trás”. O esbatimento da dicotomia mundial Norte-Sul, com a generalização de desafios de desenvolvimento, aponta também para a necessária distinção dos próprios países em desenvolvimento, bem como para a complexificação do sistema de cooperação internacional.
A diversificação das fontes de financiamento do desenvolvimento não tem colmatado a disparidade entre necessidades e financiamentos disponíveis, nem conseguido responder aos efeitos dos múltiplos choques desde 2020.
A crescente complexidade e fragmentação – de intervenientes, de instrumentos, de fóruns de discussão, de financiamentos, de estratégias e formas de atuação – traduz-se, também, na necessidade de aprofundar a reflexão sobre o papel que Portugal pode e deve desempenhar no seu contributo para o Desenvolvimento Global.
Gap de financiamento para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) continua a aumentar
O projeto foca-se em 4 vértices que correspondem a Desafios Globais, tendo o Desenvolvimento Global como centro da abordagem. Estes temas são abordados na ótica da Educação para o Desenvolvimento e Cidadania Global, almejando a um mundo mais seguro (safer), mais sustentável (greener) e mais justo (fairer).
Paz e prevenção de conflitos, fragilidade dos Estados, segurança humana, crises humanitárias e deslocamento forçado, promoção do diálogo e diplomacia, segurança e desenvolvimento…
Saiba maisDefesa e proteção do ambiente, biodiversidade, poluição, gestão sustentável dos recursos naturais, produção e consumo mais sustentáveis, impactos da crise climática no desenvolvimento e na segurança…
Saiba maisOrdem internacional baseada em regras comumente aceites, globalização mais equilibrada e inclusiva, gestão dos bens públicos globais, multipolaridade e multilateralismo…
Saiba maisRiqueza/pobreza, desigualdades mundiais entre e dentro dos países, Agenda 2030 e condições para nova agenda, equilíbrio entre dimensões económica, social e ambiental, fontes de financiamento do desenvolvimento…
Saiba maisEixo da reflexão, debate e produção
de conhecimento especializado:
Através do projeto, os atores do desenvolvimento (decisores políticos e técnicos, académicos, sociedade civil organizada, membros de organizações e redes nacionais e internacionais) refletem conjuntamente e produzem conhecimento sobre desafios globais para o desenvolvimento.
Eixo da comunicação
para o desenvolvimento:
Através do projeto, os desafios globais para o desenvolvimento estão mais presentes nas agendas mediáticas, através dos meios digitais e dos órgãos de comunicação social, contribuindo para a influência das agendas públicas e sensibilização dos cidadãos.
Mesas redondas especializadas multi-atores e Talks públicas
Briefs e Infografias sobre os temas do projeto
Consulta aos cidadãos sobre solidariedade internacional e bens públicos globais
Comunicar os desafios globais do desenvolvimento nos meios digitais: portal web, campanha e redes sociais
Publicação
“Desafios Globais para
o Desenvolvimento”
Conferência internacional
Comunicar as temáticas nos órgãos de informação escrita: artigos, entrevistas e reportagens
Comunicar as temáticas nos órgãos de informação de massa/multimédia: programas de rádio e TV
O Clube de Lisboa é uma associação com membros individuais e coletivos que partilham a visão de Lisboa como cidade global e como espaço de reflexão, debate e intervenção sobre temas prioritários e fraturantes da agenda internacional, com atenção particular aos desafios para Portugal e a Europa. É nossa razão de ser aumentar o conhecimento, promover novas visões e perspetivas, aprofundar a reflexão e impulsionar o debate sobre temas internacionais que afetam a nossa vida em sociedade e que impactam sobre a sustentabilidade do planeta e sobre o futuro das novas gerações.
A PCS pensa políticas públicas com o objetivo de promover uma sociedade civil ativa e um modelo de crescimento sustentável para Portugal. Contribui ativamente para o aprofundamento da construção europeia, para a capacitação dos países em desenvolvimento e para a promoção de uma globalização inclusiva e sustentável.
A UAL é a mais antiga Universidade privada do país e assume-se como um exemplo da capacidade de iniciativa e de empreendimento, que desde logo quis inovar veiculando novos conceitos na pedagogia, na investigação e na ligação com o mundo económico e laboral. A parceria para este projeto desenrola-se, em particular, com o OBSERVARE – Observatório de Relações Exteriores.