06.03.2025

A Pobreza no Mundo: Quem está a ser “deixado para trás”?

Este artigo analisa como as várias crises globais em curso estão a contribuir para reverter os progressos no combate à pobreza a nível mundial e para aumentar as desigualdades. A tendência é de concentração progressiva da pobreza extrema na África Subsaariana e nos países em situação de fragilidade e afetados por conflitos – o que se deverá reforçar nos próximos anos.

Em 2024, a população a viver em situação de pobreza extrema (que vive com menos de $2,15 USD por dia, o que corresponde ao limiar mínimo definido pelo Banco Mundial2) é de cerca de 692 milhões de pessoas, o que corresponde a 8,4% da população mundial.

Este número tem vindo a seguir uma tendência decrescente desde o início dos anos 1990, com alguns pontos de inflexão, e de forma particularmente acentuada nessa década, maioritariamente em resultado da redução da pobreza na China, cuja dimensão em termos populacionais explica o grande impacto nos números a nível global. O panorama começou a mudar a partir de 2005, e ainda mais na segunda década do presente século, com um abrandamento na redução da pobreza extrema e também com um aumento do número de pessoas em situação de fome e insegurança alimentar severa, consecutivamente desde 2018. Mais recentemente, verificou-se mesmo uma reversão nos números absolutos da pobreza, com o número de pessoas em pobreza extrema, no período entre 2020 e 2024, a ser sempre superior ao registado em 2018 e 2019, e com enfoque particular nos países de baixos rendimentos, que não conseguiram recuperar para os níveis pré-pandemia.

Por outro lado, a crise de alimentos e energia e os pagamentos de dívida contribuíram para enormes pressões orçamentais. Desde 2020, o peso do serviço da dívida em percentagem das receitas do Estado tem subido particularmente nos países de rendimentos mais baixos, contribuindo para impossibilitar maior investimento público em políticas e setores sociais essenciais ao desenvolvimento.

Paralelamente, o crescimento e concentração da riqueza extrema num número muito reduzido de pessoas, que detém níveis de riqueza superiores ao PIB de muitos países – e cujo crescimento da riqueza não passa, maioritariamente, por setores produtivos – tem suscitado um questionamento sobre o tipo de modelo de crescimento e de paradigma económico que é prosseguido.

O artigo, com autoria de Patrícia Magalhães Ferreira, foi elaborado no âmbito do projeto “Desafios Globais para um Desenvolvimento Global” e foi publicado no Anuário Janus.

Esta é uma publicação editada desde 1996-97 pelo OBSERVARE – Observatório de Relações Exteriores da Universidade Autónoma de Lisboa, que a partir da edição de 2024 conta com a colaboração permanente do Clube de Lisboa.